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Conheça as principais formas de tratamento de Enxaqueca

É uma doença crônica, recorrente, marcada por dor de cabeça e outros sinais/sintomas acompanhantes (náuseas, vômitos, sensibilidade aumentada para sons, odores e luz) sendo explicada principalmente por uma alteração no cérebro dos pacientes (os cérebros são mais sensíveis ao desenvolvimento da dor e aos fatores ambientais que desencadeiam as crises, como cafeína, bebidas alcoólicas e chocolate, além dos fatores internos, como estresse emocional), com forte predisposição genética.

Dor de cabeça do tipo “latejante” ou que “pulsa”, geralmente de um lado da cabeça, associada a náuseas, vômitos, sensibilidade aumentada para luz, sons e “cheiros” (odores). Piora com atividades físicas rotineiras (caminhar e subir escadas, por exemplo). Comumente afeta as atividades cotidianas e a capacidade de trabalhar.

A dor pode ter duração de 4-72 horas quando não tratada, sendo muito debilitante para os pacientes.

Inicia-se geralmente entre os 10 e 40 anos de idade, com melhora após os 50 anos (na maioria).

75 % dos casos ocorrem em mulheres.

São subdivididas em enxaqueca com aura e sem aura

  • Com aura: aura é um fenômeno neurológico que ocorre por alteração no funcionamento normal do cérebro, geralmente antecede a dor e pode acontecer durante a mesma e manifesta-se com sintomas característicos.
  • Representa em torno de 25-30 % de todos os casos de enxaqueca.
    • Aura visual: o paciente pode enxergar pontos de luz brilhantes, objetos deformados (borrados, com tamanho aumentado ou diminuído); linhas em ziguezague, formas semelhantes a paredes de castelos medievais e, até mesmo, perder a visão completamente durante alguns minutos.
    • Aura sensorial: o paciente pode sentir “formigamentos”, “dormência” e outras sensações “estranhas”, em um lado do corpo ou até mesmo nos dois lados.
    • Aura disfásica: o paciente pode apresentar dificuldade para falar e entender o que as outras pessoas estão dizendo, representando uma alteração de linguagem (disfasia).
    • Aura motora: pode ocorrer fraqueza de um lado do corpo e até paralisia completa.
    • Outros sintomas: alguns pacientes podem apresentar “tontura” ou “vertigem” (como se o paciente estivesse parado e o ambiente “rodando” ou o contrário).
    • A aura dura de 5-60 minutos, na maioria dos casos (se houver mais de um tipo de aura, cada um pode se estender por 60 minutos, totalizando 240 minutos, no máximo).
  • Sem aura: é a enxaqueca que não possui aura, apenas os outros sintomas, como a dor e sensibilidade aumentada à luz, cheiros e sons fortes.
  • Representa a maioria dos casos de enxaqueca (70-75 % do total).

Pródromos e Pósdromos

  • Pródromos são sintomas e sinais apresentados pelos pacientes migranosos e que antecedem em até 72 horas a dor de cabeça. Os mais comuns são irritabilidade, falta de concentração, insônia ou sonolência excessiva, alteração do apetite (pode haver compulsão por determinados alimentos), depressão, fadiga, ansiedade, retenção de líquido, bocejo repetitivo e sensibilidade aumentada à luz e sons.
  • Pósdromos são sintomas e sinais que acontecem após o desaparecimento da dor de cabeça, sendo os mais frequentes: fadiga, dificuldade de concentração, insônia ou sonolência.

A enxaqueca na mulher

  • Nas mulheres alguns aspectos são importantes, pois esse tipo de dor está associado a mudanças hormonais que acontecem ao longo da vida e dentro do ciclo menstrual normal.
    • Ao longo da vida: antes da puberdade, os indivíduos do sexo masculino apresentam aproximadamente a mesma frequência de ocorrência de enxaqueca que os do sexo feminino, entretanto, após esse período a predominância é nas mulheres.
    • Outro fato interessante é que após a menopausa frequentemente as crises de dor de cabeça diminuem em frequência e intensidade.
    • Dentro do ciclo menstrual normal: logo antes da menstruação pode haver intensificação da dor de cabeça, permanecendo até o fim dessa fase do ciclo menstrual (chamado de período perimenstrual). Além disso, algumas mulheres apresentam crises de enxaqueca exclusivamente durante o período perimenstrual. Nos dois casos, chamamos de enxaqueca associada ao ciclo menstrual.
  • Essa peculiaridade das mulheres é associada à variação hormonal que ocorre durante o ciclo menstrual e ao longo da vida, sendo pouco proeminente nos homens.

O que causa a enxaqueca?

A enxaqueca pode ser explicada por alterações no cérebro que o deixam mais sensível aos estímulos dolorosos (p. ex. estresse emocional, medicamentos e outras substâncias) sendo associada a predisposição genética (se ambos os pais tiverem migrânea, a chance de um filho apresentar essa doença é de 70-75 % e se apenas um dos pais tiver o diagnóstico, a chance do filho desenvolver a patologia cai para 45%).

Quais são os desencadeantes mais comuns da enxaqueca?

  • Alimentos: uso excessivo de chocolate, compostos com glutamato monossódico (usado para realçar o sabor de alguns alimentos industrializados e na culinária chinesa), nitratos (presente em salsichas, bacon, presunto e outros alimentos industrializados), adoçantes (aspartame), tiramina (queijos envelhecidos, peixes defumados, vinho tinto e alguns tipos de cervejas), frituras, doces/confeitados, algumas frutas (abacate, banana, laranja, limão e figo) e alguns tipos de queijos (amarelos).
  • Uso de cafeína em excesso ou a parada abrupta do uso da mesma, em pacientes com habito de consumir de forma frequente essa substância. Podemos citar alguns tipos de bebidas que possuem cafeína em sua composição: café, chocolate, refrigerantes, “energéticos” e chá (mate e preto).
  • Uso de bebidas alcoólicas (por exemplo, vinho tinto).
  • Jejum prolongado ou deixar de realizar uma refeição costumeira.
  • Sono não reparador (insônia, dormir poucas horas por noite, má “higiene” do sono, síndrome da apneia obstrutiva do sono).
  • Medicações: a título de exemplo, o uso excessivo de analgésicos comuns (paracetamol, dipirona), anti-inflamatórios (p. ex. ibuprofeno, naproxeno), analgésicos com cafeína, triptanos (p. ex. sumatriptano, naratriptano), anticoncepcionais orais combinados (contendo derivados da progesterona e estrogênio), além de compostos com nitrato (usados para tratar dor no peito ou angina).
  • Exercício físico extenuante.
  • Mudança de altitude (viagem de avião, mergulhos em aguas profundas ou escalar montanhas).
  • Extremos de temperatura e umidade (ambientes quentes e úmidos, quentes e secos e ambientes frios).
  • “Cheiros fortes” (p. ex. alguns tipos de perfumes e produtos de limpeza doméstica).
  • “Barulhos intensos” (p. ex. máquinas usadas em construção civil e música alta).
  • Desidratação.
  • Traumatismo craniano.

Quais são as doenças que podem ocorrer em conjunto com a enxaqueca?

  • Depressão
  • Ansiedade
  • Distúrbios do sono (insônia)
  • Síndrome do intestino irritável

A enxaqueca pode cursar com aumento do número de crises?

  • Alguns pacientes podem desenvolver a chamada enxaqueca crônica, caracterizada pela ocorrência de crises de dor por mais de 15 dias por mês por mais de 3 meses. Comumente está associada a abuso de medicamentos analgésicos ou exposição aos outros fatores desencadeantes já citados. Em outros casos, não se encontra a presença de tais fatores, sendo então, uma peculiaridade do paciente (genética).
  • Na enxaqueca crônica o tratamento é mais desafiador, pois os pacientes apresentam chance aumentada de desenvolver doenças associadas (já citadas), bem como abuso de medicamentos, necessitando da cooperação entre o paciente, médico e outros profissionais (p. ex. psiquiatras, psicólogos, dentistas e fisioterapeutas).

Como se diagnostica a enxaqueca?

O melhor método de se diagnosticar a enxaqueca é a realização de uma boa anamnese (história clínica) aliada a um exame físico minucioso.

É preciso solicitar exames complementares para o diagnóstico de enxaqueca?

Não. Se a história clínica e o exame físico não identificarem a presença das chamadas “características de alarme”, além de qualificar a dor e os sintomas associados como típicos de enxaqueca, não é necessário solicitar exames complementares (tomografia de crânio, ressonância magnética, eletroencefalograma, punção lombar, etc.).

Como se trata a enxaqueca?

  • Existem basicamente dois tipos de tratamento: o farmacológico e o não farmacológico.
  • O tratamento farmacológico envolve o uso de medicamentos. É dividido em tratamento da crise de dor (para interrompê-la) e profilático (para evitar que as dores de cabeça surjam ou, em caso de não preveni-las totalmente, que aconteçam com menor intensidade). É necessário enfatizar que a enxaqueca é uma doença crônica, logo, o alvo inicial de todo tratamento é diminuir a frequência de dor e/ou intensidade em 50 %.
  • O tratamento não farmacológico utiliza-se de outros métodos que não o uso de medicamentos. Idealmente, nos pacientes com grande frequência de crises de dor de cabeça e/ou presença de doenças associadas, seria necessária a abordagem por equipe multidisciplinar (psicólogos, fisioterapeutas, dentistas, neurologistas, nutricionistas, endocrinologistas e outros especialistas em casos específicos).

Quais os principais medicamentos para tratamento da enxaqueca?

  • Crise de enxaqueca: geralmente se usa medicações por via oral, como analgésicos comuns (paracetamol, dipirona e ácido acetilsalicílico), anti-inflamatórios (ibuprofeno, naproxeno e diclofenaco), antieméticos (metoclopramida e bromoprida), derivados do “ergot” (ergotamina) e triptanos (sumatriptano, naratriptano, zolmitriptano, dentre outros). A escolha do medicamento é centrada no paciente (peculiaridades individuais) e nas características da sua dor de cabeça.
  • Profilático: as principais medicações utilizadas também são por via oral, sendo as classes mais frequentes os anti-hipertensivos (propranolol e atenolol), bloqueadores dos canais de cálcio (flunarizina), antiepilépticos (topiramato e ácido valpróico) e antidepressivos (amitriptilina, nortriptilina, fluoxetina e venlafaxina).

Quando devo utilizar a toxina botulínica para o tratamento de enxaqueca?

O uso de toxina botulínica para enxaqueca está indicado na forma crônica, geralmente quando não responde ao uso concomitante de duas medicações profiláticas ou caso o paciente possua contraindicações ao uso dessas medicações por via oral.

Quais as principais terapêuticas não farmacológicas para o tratamento da enxaqueca?

  • O primeiro passo é a mudança do estilo de vida (praticar exercícios físicos de forma moderada, de preferência aeróbicos, como caminhada, natação e hidroginástica), estabelecer uma boa higiene do sono, hábitos alimentares saudáveis (inclusive com horários regulares das refeições), manejo do estresse (yoga e meditação) e evitar os fatores desencadeantes.
  • Outras modalidades de tratamento são: psicoterapia (quando indicada), fisioterapia, técnicas de relaxamento, biofeedback e acupuntura.

Como o paciente pode monitorar e contribuir para o tratamento da enxaqueca?

Possuir um “diário de cefaleia”: documento onde serão anotadas as datas das crises de dor, as características delas, a presença de fatores desencadeantes, a fase do ciclo menstrual em mulheres, a presença de sintomas prodrômicos e/ou posdrômicos (que antecedem ou sucedem a dor, respectivamente), sintomas associados (p. ex. náuseas ou vômitos), medicações utilizadas e respostas à terapêutica das crises, para a correta identificação do estímulo, de forma que o neurologista possa orientar a maneira adequada de evitá-lo.

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