Dúvidas

Cefaleia em Salvas

É uma das piores dores de cabeça que o ser humano pode experimentar.

É chamada tradicionalmente de cefaleia em salvas porque as crises de dor ocorrem agrupadas, em sequência, várias vezes ao dia (até 8 vezes ao dia), como se fossem uma “salva de palmas” (dor), com intervalos de “silêncio” (sem dor).

É de grave intensidade na maioria dos casos, de caráter excruciante, descrita pelos pacientes como se fossem “agulhadas”, “facadas” ou “choques” na região do olho, atrás dele ou na testa.

Assim como a migrânea, possui formas episódicas (ocorrem em crises e com períodos sem dor) e crônicas.

Mais comum geralmente entre adolescentes e adultos jovens.

Ao contrário da enxaqueca e cefaleia do tipo tensional, a cefaleia em salvas predomina no sexo masculino.

É uma doença crônica, recorrente, marcada por dor de cabeça e outros sintomas acompanhantes, sendo explicada principalmente por uma alteração no cérebro dos pacientes (os cérebros são mais sensíveis ao desenvolvimento da dor e aos fatores ambientais que desencadeiam as crises, como uso de bebida alcoólica).

Dor de cabeça do tipo “facada” ou “agulhada”, geralmente em um lado da cabeça, não associada a vômitos ou sons e “cheiros” fortes. De grave intensidade.

Uma característica importante dessa cefaleia é a ocorrência de lacrimejamento, vermelhidão no olho, obstrução nasal, aumento da secreção nasal, vermelhidão na região da testa e, em alguns casos, queda da pálpebra superior (“olho fechado”). Esses sintomas acontecem no mesmo lado da dor.

Comumente afeta as atividades cotidianas e a capacidade de trabalhar. Não existe uma melhora com o sono (ao contrário da enxaqueca) e o paciente não encontra uma posição que alivie a dor. A crise dolorosa pode ter duração de 15 minutos a 3 horas, quando não tratada.

O que causa a cefaleia em salvas?

  • A patologia pode ser explicada por alterações no cérebro que o deixam mais sensível aos estímulos dolorosos (uso de bebida alcoólica, cochilos e uso de substâncias como nitroglicerina), além de peculiaridades individuais. Ainda, acredita-se que uma região específica do cérebro (chamada de hipotálamo) possa estar associada ao início das crises de dor.
  • Essa região do cérebro regula funções do corpo como a vontade de comer, beber, o sono, reações ao estresse físico e emocional, dentre outras.

Quais são os desencadeantes mais comuns da cefaleia em salvas?

  • Uso de álcool
  • Exposição a substâncias: inalação de gasolina, ingestão de compostos com nitroglicerina (usados para tratar dor no peito ou angina).
  • Sono noturno ou cochilos diurnos.

Qual a relação entre a cefaleia em salvas e o sono?

A mesma região do cérebro que participa da coordenação do sono e o ato de acordar, o hipotálamo, está implicada na dor de cabeça. Esse local do cérebro é sensível à luz solar que o indivíduo recebe ao longo do dia e do ano (estações do ano, como verão, inverno, outono e primavera), sendo que nas regiões do planeta que ocorrem maior incidência de luz solar apresentam menos habitantes com cefaleia em salvas. Outro ponto importante é que no inverno ocorre mais crises de cefaleia (principalmente em países com estações do ano bem delimitadas, como no norte da Europa). Por fim, as crises podem ocorrer sempre no mesmo horário ao longo do dia, geralmente nas duas primeiras horas do sono noturno, cochilos diurnos ou pela manhã, pois estão relacionadas a uma fase específica do sono normal e variações hormonais durante as 24 horas do dia.

Quais são as doenças que podem ocorrer em conjunto com a cefaleia em salvas?

  • Depressão
  • Ansiedade
  • Distúrbios do sono (insônia)

A cefaleia em salvas pode cursar com aumento do número de crises?

  • Alguns pacientes podem desenvolver a chamada cefaleia em salvas crônica, caracterizada pela ausência de períodos livres de dor por mais de 30 dias por ano.
  • Na cefaleia em salvas crônica o tratamento é mais desafiador, pois os pacientes apresentam chance aumentada de cursar com doenças associadas (já citadas), bem como abuso de medicamentos, necessitando da cooperação entre o paciente, médico e outros profissionais.
  • Felizmente, a forma episódica (períodos livres de dor por pelo menos 30 dias por ano) é mais comum, com predileção por determinadas épocas do ano e depois com melhora até espontâneas.

Como se diagnostica a cefaleia em salvas?

O melhor método de se diagnosticar esse tipo de doença é a realização de uma boa anamnese (história clínica) aliada a um exame físico preciso.

É necessário solicitar exames complementares para o diagnóstico de cefaleia em salvas?

Sim. Ao contrário das outras cefaleias primárias (migrânea e cefaleia tensional), a cefaleia em salvas necessita ser investigada com exames de imagem (idealmente a ressonância magnética) pois outras condições mais graves podem se parecer com esse tipo de dor de cabeça.

Como se trata a cefaleia em salvas?

  • Existem basicamente dois tipos de tratamento: o farmacológico e o não farmacológico.
  • O tratamento farmacológico envolve o uso de medicamentos. É dividido em tratamento da crise de dor (para interrompê-la), tratamento de transição (uso de medidas para “ganhar tempo” até que o tratamento profilático comece a fazer efeito) e profilático (para evitar que as dores de cabeça surjam ou, em caso de não preveni-las totalmente, que aconteçam com menor intensidade).
  • O tratamento não farmacológico utiliza-se de outros métodos que não o uso de medicamentos. Idealmente, nos pacientes com grande frequência de crises de dor de cabeça e/ou presença de doenças associadas, seria necessária a abordagem por equipe multidisciplinar (psicólogos, fisioterapeutas, dentistas, neurologistas, nutricionistas e outros especialistas em casos específicos).
  • Nesse tipo de cefaleia está indicado, em casos refratários ao tratamento, medidas invasivas (cirúrgicas e não cirúrgicas).

Quais os principais medicamentos para tratamento da cefaleia em salvas?

  • Crise de dor: geralmente se usa oxigênio por via inalatória (sob máscara de alto fluxo), e caso não seja efetiva, escolhe-se os triptanos (principalmente os aplicados de forma subcutânea pela necessidade de efeito rápido do medicamento). A escolha do medicamento é centrada no paciente (peculiaridades individuais) e nas características da sua dor de cabeça.
  • Tratamento de transição: depende das características individuais do paciente.
  • Profilático: as principais medicações utilizadas são por via oral, sendo as classes mais frequentes os anti-hipertensivos, antiepilépticos, antidepressivos e carbonato de lítio.

Quais as principais terapêuticas não farmacológicas para o tratamento da cefaleia em salvas?

O primeiro passo é a mudança do estilo de vida (praticar exercícios físicos de forma moderada, de preferência aeróbicos, como caminhada), estabelecer uma boa higiene do sono, hábitos alimentares saudáveis (inclusive com horários regulares das refeições), manejo do estresse (yoga e meditação) e evitar os fatores desencadeantes.

Como o paciente pode monitorar e contribuir para o tratamento da cefaleia em salvas?

Possuir um “diário de cefaleia”: documento onde serão anotadas as datas das crises de dor, as características delas, a presença de fatores desencadeantes, a fase do ciclo menstrual em mulheres, a presença de sintomas prodrômicos e/ou posdrômicos (que antecedem ou sucedem a dor, respectivamente), sintomas associados (p. ex. náuseas ou vômitos), medicações utilizadas e respostas à terapêutica das crises, para a correta identificação do estímulo, de forma que o neurologista possa orientar a maneira adequada de evitá-lo.

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